O que é o CAPB?
Ao pesquisar na internet ou procurar na história, você provavelmente encontrará que um Centro Acadêmico (CA) é uma entidade que representa todos os estudantes de um curso, e que eles são legitimados pela Lei Nº 7.395, de 31 de outubro de 1985, funcionando a partir da associação de estudantes. Também verá que suas funções podem ser, e em geral são, diversas entre as quais estão: a organização de atividades acadêmicas extracurriculares como debates, discussões, palestras, semanas temáticas, visitas técnicas em empresas privadas e órgãos públicos, recepção de calouros, realização de projetos de extensão, mobilização e organização de reivindicações e ações políticas dos estudantes, mediação de negociações e conflitos individuais e coletivos entre estudantes e a faculdade, realização de atividades culturais como feiras de livros, festivais diversos, entre outros. Com tudo isso, vai ouvir que existem também o DCE (Diretório Central dos Estudantes), os DAs (Diretórios Acadêmicos) e Grêmios, todos cumprindo essa mesma função ou em diferentes escalas. Assim como os CAs, essas entidades podem estabelecer relações com instâncias burocráticas das instituições, inseridas diretamente nas suas estruturas ou não, determinando como se dá sua autonomia e a existência de interferências institucionais.
Entretanto, vemos que um CA ou o CAPB é definido não somente pelas palavras escritas ali em cima, mas por todas as pessoas que o constroem, coletivamente. Ele pode ser utilizado como um instrumento de mudança e transformação da universidade e da realidade fora dela, um espaço não para o qual somos chamados para participar e que é determinado pela ordem vigente, mas que é criado e constantemente recriado (por vezes de maneira insurgente) pela iniciativa dos estudantes e que permite a construção coletiva de um projeto diferente de curso, de universidade e também da sociedade. Podemos falar também sobre o seu caráter pedagógico, nos ensinando sobre as potencialidades e limitações dos espaços institucionais colegiados, que nada mais são que espaços da ordem onde nos inserimos para participar das deliberações acadêmicas. Assim como podemos discutir sobre as contradições da nossa sociedade e ao fazê-lo, debater o comunitário de maneira coletiva e plural, possibilitando quebrar com a lógica individualista que permeia toda a nossa vida, desde a escola até a carreira profissional.
Nesse espaço criado também construímos uma noção de democracia diferente da usual, na qual o debate vai além do partidarismo e da participação apenas pelo voto (sem contudo excluí-los), reconhecendo e nos inserindo na constante disputa de ideias e projetos que está estabelecida na sociedade, em todas as esferas da nossa vida e sem dúvidas na vida universitária, sem no entanto nos preocuparmos com retaliações devido a opiniões contrastantes.
Do entendimento de que não somos uma ilha, devemos estar em constante comunicação e articulação com outras entidades dentro e fora da UNIFESP, com CAs, DCE, outros estudantes de medicina (por meio da DENEM) sindicatos e associações estaduais e nacionais, e mais uma vez o Centro Acadêmico permite ampliar nosso conhecimento e nossos horizontes, deixando cada vez mais claro o papel de todos enquanto agentes políticos.
Assim, colocando o CAPB enquanto espaço de constante e dinâmica construção, temos que ele é algo que não está dado, de maneira estática, e que é mutável de acordo com quem o compõe, bem como tudo aquilo que nos cerca enquanto indivíduos e sociedade e que, além de entidade imprescindível para a representação dos estudantes da Medicina UNIFESP, também nos chama como instrumento para nossa organização e mudança.
Fragmento histórico
O CAPB (Centro Acadêmico Pereira Barretto) foi fundado em 7 de agosto de 1933 pelos alunos da recém fundada Escola Paulista de Medicina, então uma instituição privada, criada por 31 médicos e 2 engenheiros em conjunto com estudantes aprovados no vestibular da Faculdade de Medicina de São Paulo, que não tiveram suas vagas garantidas.
Nosso Centro Acadêmico era inicialmente uma entidade civil, associativa dos alunos da EPM totalmente independente financeira e politicamente. Foi fundado junto com a escola (Prof. Jair foi um dos primeiros presidentes). O Centro Acadêmico era importante porque tinha uma representatividade política na vida acadêmica e de um modo geral no país (época em que a UNE era uma entidade legal, com sede no Rio de Janeiro).
Desde então, foi uma história longa de muita luta, começando com a represália sofrida da comunidade catedrática no ato da criação da Escola, que levou a um reconhecimento um pouco tardio da instituição. Passamos por um grande endividamento nos primeiros quinze anos de nossa existência, até a autorização do presidente Gaspar Dutra, para que o governo federal a saudasse em 1949. Esse processo finalmente resultou na federalização da EPM em 1956, porém, o Hospital São Paulo (primeiro hospital universitário do Brasil, fundado em 1940) permaneceu sob administração da Sociedade Civil Escola Paulista de Medicina, hoje chamada de Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), um passado que nos assombra até hoje.Um dos maiores momentos de sofrimento ocorreu na época da ditadura, quando os Diretórios Acadêmicos (órgãos subordinados a hierarquia universitária) foram criados pelo próprio regime militar com o intuito de esvaziar o movimento estudantil, se opondo a filosofia antes existente nos CAs (Centros Acadêmicos). Por exemplo, em 1968 o centro acadêmico foi invadido pelo DOPS, vários estudantes foram presos e o mimeógrafo apreendido (o mesmo utilizado para fazer O Barrettinho). Esvaziou-se assim uma boa parte da força política representada pelas entidades estudantis.Hoje o CAPB continua lidando com várias dificuldades; enfrentamos atualmente os clássicos problemas de falta de verba e falta de espaço, que foram sendo minados lentamente através de diversas mudanças na estrutura universitária, lutamos contra a presença limitadora da SPDM na gerência de diversos espaços utilizados por nossos estudantes (principalmente o HSP, a AAAPB e o próprio prédio do DCE, onde ficam todos os CAs do campus São Paulo), buscamos o controle da expansão universitária precária e descontrolada da qual nossa universidade é um exemplo, e principalmente tentamos acabar com o desinteresse dos alunos pelas causas apresentadas.O movimento estudantil está esvaziado, mas ainda temos representação estudantil e continuamos promovendo espaços de discussão, debate e engajamento político em prol de uma universidade pública igualitária.
Funções
Fornecer e compartilhar informações: O CAPB é uma importante fonte de informações para o estudante de medicina da Unifesp/EPM. Na internet, nos murais e nas publicações é possível encontrar:
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Agenda dos principais eventos da universidade: cursos, ligas acadêmicas, reuniões (CAPB e outros órgãos da universidade), eventos culturais;
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Textos informativos e críticos sobre os principais temas que dizem respeito ao ensino e à prática da medicina nos dias atuais (lei do Ato Médico, exame do Cremesp, papel do SUS e da Atenção Básica, entre outros);
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Informações sobre o movimento estudantil de medicina: encontros regionais e nacionais dos estudantes; posicionamentos, decisões e publicações de outras entidades representativas.
Discutir questões do curso e da medicina em geral: O CAPB é um espaço aberto e democrático para a discussão de problemas internos da universidade (professores, provas, aulas, estrutura física) e de questões importantes para os estudantes de medicina. É muito importante que todos discutam e deem sua opinião, para que se possa conhecer os principais problemas enfrentados e, assim, buscar as melhores soluções possíveis para eles.
Representar os estudantes de medicina: O CAPB é o espaço onde os problemas, as sugestões e os posicionamentos dos estudantes são discutidos para que sejam defendidos perante os departamentos, conselhos e comissões da universidade. Todos têm o direito de ocupar as vagas de representação discente e de levar as reivindicações aos órgãos competentes. Cabe à gestão do CAPB auxiliar os alunos nessa função, oferecendo informações e promovendo espaços para debates e tomada de decisões.
Divulgar as opiniões dos estudantes: Qualquer estudante pode expressar seu ponto de vista através de textos para os diversos meios de comunicação do CAPB.
Participar do movimento estudantil de medicina: É através dos centros acadêmicos que os estudantes de medicina da Unifesp/EPM têm a oportunidade de participar de encontros regionais e nacionais que possibilitam conhecer outras faculdades e o modo como elas funcionam, discutir os problemas e questões políticas que envolvem a medicina e lutar por melhorias em todos esses aspectos.
Promover cursos, palestras e eventos culturais: É também função do CAPB promover eventos culturais, como saraus, festivais de música, apresentação de filmes, entre outros, além de cursos e palestra que contribuam não somente para a diversão, mas também para a obtenção de conhecimento tanto na área médica quanto em tópicos das ciências humanas (ciência política, filosofia, história, pedagogia, etc.) que sejam essenciais para a formação de um profissional crítico e completo.